André Eduardo Amaral Ribeiro, dentista e perito judicial em São Paulo.
Palavras-chave: #apolice #responsabilidade #civel #odontologia #periciajudicial #perito #codigodedefesa #consumidor #endodontia #implantes #ortodontia #seguro #profissional #laudopericial #assistenciatecnica #enriquecimento #ilicito#acidentes #sequelas #fatalidades #adversos
Link para a venda do livro na Amazon: https://a.co/d/dKl4jhf
Na visão de Diego Barreto[1]:
Marcas do atraso: ao longo da história, os vícios do Estado capturaram e contaminaram os setores privados. O favorecimento, na lógica torta desse capitalismo sui generis, é uma vantagem nos negócios e sua manutenção passa por afastar qualquer competidor que não se paute por essas regras. Naturalmente que, nesse cenário, o oligopólio tenha sido a marca do progresso de industrialização do país, pontuado por medidas protecionistas – o que se converteu muitas vezes em álibi para práticas ultrapassadas e pouco competitivas no cenário internacional. A salada do fracasso, aqui, sempre foi temperada com ideologias nacionalistas, à esquerda ou à direita, mas quase sempre atreladas ao populismo.
Essa visão do autor confronta a Velha Economia com a Nova Economia. A Velha significa o que vemos no cotidiano do Brasil – poucas empresas muito grandes e que não se preocupam com a concorrência – o chamado oligopólio. E o alto grau de intervenção do Estado na economia e no funcionamento dos negócios – legislações, regras, impostos, benefícios, fiscalização deficiente, multas.
Vejamos os bancos. No cenário de vinte anos atrás, teríamos Banco do Brasil, Caixa Econômica, Itaú, Bradesco e Santander. Era um oligopólio, a pessoa não conseguia fugir dos cinco grandes. O serviço era feito em agências, com fila. E o Itaú era considerado um banco com forte digitalização[2]. Essa era a Velha Economia. O autor continua[3]:
Foi nesse mindset coletivo, digamos assim, que a nossa Velha Economia foi construída, a mesma que colocou o Brasil nas últimas posições em abertura econômica, competividade e abertura econômica. (…) Na ponta oposta, o empreendedor da Nova Economia acumula riquezas, mas reverte grande parte ao desenvolvimento de novas ideias que estimulam ainda mais a tecnologia proprietária. Ela superou os desafios a partir de uma lógica privada, sem a necessidade de socorro do governo, e usa recursos obtidos em um projeto de sucesso para iniciar outras. Exemplos não faltam. Paulo Veras, cofundador do aplicativo de transportes 99, é um deles.
Ele quer dizer sobre os táxis e transporte público. Os táxis tinham uma licença da Prefeitura para trabalhar, dizem que essa concessão é muito valiosa, mas eu nunca investiria em comprá-la. O valor da corrida tinha um obscuro taxímetro[4], a bandeira 1 e a bandeira 2, que ninguém entendia. Tanto faz, isso é passado. Havia também o transporte por ônibus. Em São Paulo, as empresas de ônibus reclamaram da redução do número de passageiros com a epidemia de COVID-19 e com a chegada do Uber e 99 no transporte por aplicativo.
Os táxis e os ônibus mantiveram-se acomodados, supondo que sua licença para operar (táxis ou trajetos) era imortal, mas nunca usaram tecnologia. O taxímetro continuou igual, os bilhetes de ônibus só inovaram no cartão magnético. Por vinte anos. Alguns pensadores começaram a trabalhar na Holanda e criaram o Uber, que se espalhou com sucesso pelo mundo. A tecnologia da Uber é enorme e proprietária e você não consegue roubá-la, em tese. A recompensa foram milhões de dólares para o Uber. Isso até reduziu o desemprego, que o governo Lula insiste em dizer que criou empregos. O Lula criou empregos ou a Uber e Ifood criaram empregos? O Estado é incapaz de gerar tantos empregos.
De qualquer forma, o Estado ficou ultrapassado. Os táxis ficaram parados, no modelo antigo. Observo isso, pois na esquina do meu prédio existe um telhadinho, que é um ponto de táxi. Veja o cúmulo: não tem banheiro, não tem água, é apenas um banco coberto e pessoas pagaram caro pela concessão do táxi. Hoje, isso não vale nada.
Aponto duas vertentes estatais que vão sumir em vinte anos, talvez menos: SUS e Poder Judiciário. Quando a pessoa procura o fórum ou a unidade de saúde pública, ela precisa da solução do problema agora. Ela não precisa para daqui a dois meses ou para daqui a dois anos. Ela precisa de uma consulta médica imediata, mas existe uma fila, uma agenda e muitas desculpas – falta de pessoal, falta de insumos, falta de especialistas. Se a pessoa precisa de um serviço mais avançado, ela precisa se envolver com a Regulação – um sistema atrasado e que seria a remessa para setores mais complexos da saúde: hospitais, Oncologia, cirurgias, remédios de alto custo. O Estado considera normal a fila e a impossibilidade de se conseguir o tratamento nos próximos sete dias. Estou com dor agora, quero uma solução agora, não para daqui a dois meses. Todo esse sistema de marcação de consultas envolve recepcionistas, que tem o poder de controlar as agendas dos médicos. Se o recepcionista quiser, ele te conseguirá uma consulta para o dia seguinte. Esses recepcionistas poderiam ser dispensados e tudo ser substituído por um aplicativo de agendamento de consultas, como no serviço particular.
Como as pessoas já estão acostumadas com soluções rápidas no seu smartphone, a questão surge – se eu estiver com fome, posso comprar imediatamente pelo aplicativo. Existe um aplicativo do Dr. Consulta que eu posso conseguir uma consulta com o médico ortopedista para amanhã. No serviço público, ela precisa do encaminhamento, da liberação pela regulação e pela espera de dois meses. A pessoa contrasta os serviços particulares rápidos com a ineficiência estatal. Aquilo vai moldando o pensamento, causa um grande contraste e a demora fica inaceitável.
No poder Judiciário gera também temos o contraste. Eu preciso do despejo do meu inquilino hoje, não daqui a dois anos. No Judiciário, a demora é considerada normal, a solução imediata é incomum. A facilidade do smartphone surge novamente, por que esperar por uma solução incerta para o meu despejo? Portanto, prevejo a extinção do Judiciário. Isso já aconteceu com o Tribunal do Trabalho, que era exclusivo para tratar dos casos do contrato CLT. A CLT reduziu-se muito e o Tribunal se tornou ocioso frente a informalidade do trabalho, frente ao número de pessoas que trabalham na internet (You Tubers). Não há mais o que julgar. Isso vai acontecer com outros Judiciários. Acredito que somente a Justiça Criminal existirá em vinte anos. E até ela pode desaparecer.
Todo o trabalho do fórum sobre um processo judicial pode ser informatizado. As intimações podem ser feitas por mensagem de WhatsApp, os textos podem ser simplificados e escritos por inteligência artificial. Os mandados e citações podem ser todos digitais. A audiência pode ser feita por vídeo. Até as provas estão mudadas: testemunhas não fazem mais sentido, pois quase tudo é filmado hoje em dia. Não faz sentido interrogar pessoas quando se tem um vídeo que ilustra tudo. A decisão da sentença talvez ainda continue por humanos. Caberá ao juiz revisar a lógica do processo (corrigir erros da IA) e decidir.
Como estamos acostumados às nossas soluções imediatas por nosso smartphone, um contraste é criado com a lentidão natural do SUS e do Poder Judiciário, que não se modernizam, não usam IA ou tecnologia suficiente. Eles vão sumir ou reduzir a uma fração, como ocorreu com os Correios em 2025.
São Paulo, 10 de outubro de 2025
(assinatura digital)
[1] BARRETO, Diego. A Nova Economia, Editora Gente, 2021, São Paulo, p. 55.
[2] Hoje temos o Nubank e dezenas de bancos que sequer possuem agência física.
[3] BARRETO, Diego. A Nova Economia, Editora Gente, 2021, São Paulo, p. 65.
[4] Falta de transparência.
Deixe um comentário