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André Eduardo Amaral Ribeiro, dentista em São Paulo
Recém-formados em Odontologia e concursos públicos
Se me pedissem uma dica sobre o que fazer, antigamente, diria: tente um concurso público em uma Prefeitura. Preferencialmente, um cargo com vinte horas semanais, quatro ou cinco horas por dia, talvez dois dias de dez horas. Acho uma ótima ideia. Faço algumas considerações.
Quanto entrei na Prefeitura de São Paulo, há onze anos, foi ótimo. Sem dificuldades para ter meus trinta dias de férias, planejados com antecedência, meu direito ao terço de férias. Vale-alimentação, direito ao Hospital do Servidor Público Municipal na Liberdade (HSPM).
Porém, existe um perito mental nesse tipo de relação trabalhista: o dentista pode começar a se envolver com questões que matarão qualquer mentalidade empreendedora que você possa a ter. Primeiro, começam as imposições da Saúde Pública, palestras em escola, aulas sobre o tema patrocinadas pela própria prefeitura. Depois, surgirão as questões mais complexas: protestos por maiores salários, reajustes anuais e greves.
Quanto entrei em 2011, pensei em ficar três anos. O tempo voou e quando percebi, meu pensamento estava se estatizando. Entrei em uma comissão de saúde, entrei em um serviço de HIV, comecei a me preocupar com essas questões e perdi o foco do meu objetivo: montar meu negócio, empreender.
Naquela época, as redes sociais estavam crescendo, pessoas montado negócios on-line, cursos de marketing digital, tecnologia para todo o lado. E eu ali – descascando batata no porão – como cantam os Paralamas no Melô do Marinheiro. Estava ficando para trás. Só entendi isso quando cedi a alguns colegas da unidade da saúde e resolvi entrar numa greve. Fomos ao Viaduto do Chá, protestar em frente ao gabinete do Prefeito. No fim, convenceram a aderir à greve em 2015. Fiquei em casa três dias seguidos. Fui penalizado com as faltas injustificadas, que meses depois foram anistiadas pela Prefeito. Eu notei a perda de meu foco quando estava respondendo a uma sindicância sobre abandono do plantão em razão da greve.
Jovens de quinze anos montando seu negócio na internet, estudando para criar um marketplace, atualizando-se e eu ali escrevendo uma defesa e pagando um advogado. Foi quando bastou, sentei-me e refleti sobre meu afastamento da minha ideia original: não havia mais conversado com outros dentistas sobre negócios, não havia lido mais livros, estava prestando outros concursos com salário de R$ 4.000,00.
Mudei quando percebi que a perícia judicial seria um empreendimento e considerei seriamente investir no assunto e que, no fim, se mostrou mais promissora.
Tenho amigos que dirigem negócios e aulas preparatórias para cursinhos em Odontologia, mas eles estão empreendendo, criando um negócio, crescendo e pensado no futuro, com coisas modernas que envolvam a tecnologia. O erro é entrar no cargo público e desenvolver uma mentalidade derrotada e o sinal de que isso aconteceu será quando estiver participando de uma comissão ou de uma greve. O insight precisa vir o mais cedo possível, do contrário, enterrará seu lado empresarial.
Volte a ler sobre negócios – um livro atrás do outro para recuperar sua essência e seu foco. Pessoalmente, leio um livro seguido de outro. Minha única regra é que nunca sejam dois livros do mesmo tema, seguidos. Se acabei um livro sobre mercado financeiro, o outro será sobre teoria dos jogos, o próximo uma biografia.
Recentemente, comecei a tomar aulas de desenho artístico. Normalmente desenho depois de muitas horas digitando meus laudos. Portanto, uma diversificação mental. Ler e desenhar fazem o cérebro funcionar de modo distinto, não sei explicar melhor que isso. Apenas sei que o cansaço após uma sessão de desenho é diferente do cansaço após um laudo de três ou quatro horas. Ambos cansam a mente, por causa do grau de concentração, porém, são resultados diferentes. Um não afeta o cansaço do outro.
Caso pericial concreto: direcionamento do tratamento
Na semana passada peguei um caso que me levantou um novidade. Paciente com dores na face e cefaleia, procurou um dentista após ter descartado a enxaqueca por médica neurologista. Após exames, a médica concluiu que se tratava de DTM e encaminhou para o dentista.
A filha da paciente se recuperava por lentes de contato dentais em um dentista e indicou para a mãe. A mãe concordou e consultou-se. Após o fracasso do tratamento, ela entrou com pedido de indenização e a perícia ficou ao meu encargo. Estudei o caso, ouvi as partes e a assistente técnica do dentista requerido deixou escapar: ele só cuida de estética, ela deveria saber e procurar um dentista para tratar da DTM. No entanto, o paciente não sabe que aquele dentista trabalha só com estética – a pessoa pensa que o dentista não tem essas distinções. Conclui que apesar de chegar com queixa de cefaleia e com um quadro clássico de DTM, o dentista foi mudando as propostas, empurrou o tratamento de dez facetas estéticas no arco inferior. Após instaladas, as dores da autora continuaram e ela acreditou que estivesse relacionadas também com as facetas.
Pediu o dinheiro de volta, retornou, até que desistiu. Procurou nova dentista que identificou a falta de dimensão vertical posterior como o provável agravo ou causa da cefaleia. Assumiu o caso e dois meses depois, a autora estava ótima.
Agora, veremos pela óptica do dentista estético: embora deva ter visto a falta de dimensão vertical, resolveu convencer a paciente a melhorar seus dentes anteriores superiores. Esqueceu-se da dor. Quando a dor se tornou incapacitante, a autora já havia perdido a confiança nele.
Portanto, existe o direcionamento de tratamento? Quando o tratamento é aquele que interessa ao dentista? Como a Justiça entende o caso?
Já disse muitas vezes: todos os tratamentos começam com um diagnóstico, de preferência com um CID anotado. Depois, o tratamento deve ser coerente com a queixa e o diagnóstico. Neste caso, assinei pela má-prática. A queixa era cefaleia, o diagnóstico era a disfunção temporomandibular, CID 10: K.07.6.
Assinei como má-prática. Sem relação entre causa e resultado pretendido.
São Paulo, 12 de junho de 2025
(assinatura digital)
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