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Por André Eduardo Amaral Ribeiro, dentista em São Paulo.
Dificuldades em conseguir mão de obra na Odontologia
A entrevista com a pergunta sobre uma possível opção CLT ou PJ deve ser respondida com reservas na Odontologia. Se pensarmos que um consultório precisa do trabalhador especializado e os trabalhadores auxiliares. Os auxiliares são genéricos e podem ser treinados e encontrados entre jovens abaixo de vinte e cinco anos de idade, que morem na cidade. A recepcionista de um consultório dentário pode facilmente encontrar outro emprego e trabalhar numa concessionária de veículos, num hospital, numa loja, qualquer lugar. Portanto, tem mobilidade.
Já a ASB (auxiliar de saúde bucal), mais conhecida com assistente de dentista, não precisa tampouco de um treinamento muito longo. Ela precisa conhecer a rotina, os nomes dos instrumentos, algumas regras. Nada que alguém jovem não consiga. O problema são os trabalhadores especializados – dentistas. Eles serão a coluna vertebral do seu negócio. E não são fáceis de captar e de adequar aos seus negócios, quer seja uma franquia, quer seja um consultório mais familiar, com dentistas da mesma família ou casados entre si.
Depois que tive esse insight, lembrei dos meus últimos vinte anos na Odontologia e percebi que o problema era mais antigo e não é exclusivo das clínicas que crescem por franquias.
Empresas da Odontologia na B3
Numa pergunta sobre o que eu pensava sobre a empresa OdontoPrev e seu desempenho discreto na B3. Com o ticker ODPV3 e cotação de R$ 11,00 no momento deste texto: junho de 2025. Entendo ser uma empresa estagnada, com um flat no preço das ações. Pessoalmente, não vejo nenhum atrativo na compra e vejo muitas dificuldades na gestão do negócio. No site:

Opinei que não seria um mercado fácil, o crescimento de uma rede com serviços em Odontologia esbarra na dificuldade de se conseguir mão de obra especializada, os dentistas. Desaconselho investir nessa empresa. Não vejo múltiplos e não vejo sustentabilidade num crescimento de longo prazo por entender que o problema da mão de obra não tem solução.
Dificuldades com mão de obra
Com a variedade de formas de empreender, um dentista com até cinco anos de formado provavelmente pensa numa forma de montar seu negócio e com mais atenção do que a sua carreia de dentista, na modalidade que trabalha para outros dentistas (CLT ou empresa terceirizadas).
Um dono de franquias precisa de dentistas especializados para movimentar sua clínica de franquias e vai entrevistar alguns candidatos. Não é possível esconder que todos eles preferem tocar um negócio próprio, pois a profissão da Odontologia meio que faz com que o recém-formado pense naturalmente em ter seu próprio negócio.
E tive um exemplo de um amigo. Ele montou uma clínica de alto padrão em São Paulo, para o negócio evoluir, ele precisa cobrir todas as especialidades: estética (Dentística e Prótese), reabilitação (implantes), Ortodontia (tradicional e alinhadores Invisalign ou similares), clínica infantil. E ele me comentou que não conseguia uma funcionária dentista para cumprir uma jornada na clínica dele. Muitas exigências: a dentista precisa aceitar trabalhar como PJ terceirizada, teria que cumprir pelo menos dois dias na clínica dele. Não foram muitas candidatas com esse perfil, mas a escolhida era uma ótima profissional. Tão boa dentista que já pensava em montar seu próprio negócio nos cinco anos seguintes.
Por regra tácita, todos os dentistas que trabalhassem com ele deveriam fazer Instagram, essa qualidade era apurada durante o processo seletivo. Deveriam expor conteúdos sobre sua especialidade, dentro de certa frequência, diremos: um vídeo educativo a cada semana. Esse hábito levou essa moça a melhorar sua comunicação, receber mensagens de pacientes ou clientes. Suas respostas provavelmente eram rápidas e com bom português, pois tinha facilidade na comunicação.
Com os meses, o inevitável aconteceu. A dentista começou a gravar vídeos, usando o espaço do consultório desse meu amigo. A preocupação com a imagem pessoal era maior, o que levou a moça a usar roupas mais charmosas, preocupar-se com sua make e com os looks do dia. Até que um dia, concluiu que precisava montar seu negócio, talvez com alguma amiga da faculdade. A primeira notícia foi de que não poderia mais vir duas vezes por semana, pediu a redução de seu a agenda para apenas um dia na semana. A segunda notícia foi de que estava trabalhando em outro endereço, com mais liberdades. E a terceira notícia veio em menos de seis meses – não desejava mais trabalhar (na verdade, prestar serviços lá). Desligou-se, para montar o negócio própria ou empreender. Nada mais lógico hoje, com a facilidade na divulgação dos serviços.
Esse proprietário se queixou que não conseguia um colaborador para a especialidade de próteses dentárias e facetas estéticas, pois todos estavam ocupados em montar seus próprios negócios. No livro Almanaque de Naval Ravikant, o narrador cita a frase sobre o futuro dos negócios: Minha previsão é que no futuro, tenhamos sete bilhões de empresas, no qual ser traduziria num futuro no qual existiria em uma empresa individual para cada habitante da Terra.
Portanto, vejo essa dificuldade na mão de obra como o maior impedimento para um crescimento sustentável. O seu funcionário (que é prestador de serviços CNPJ) não tem nenhum motivo para ser fiel à sua clínica dentária. O cotidiano de redes sociais e aplicativos de comunicação o leva a pensar em seu empreendimento. Por isso, não acredito que uma empresa como a OdontoPrev consiga ter um crescimento sustentável, pois a mão de obra especializada (dentistas) dificilmente será mantida lá dentro das clínicas, quer sejam da rede ou franqueadas.
Resta então a empresa familiar, talvez um casal trabalhando junto e tentando dar conta de todas as especialidades. No entanto, não vejo isso com a possibilidade de alavancagem de mão de obra.
E minha esposa me deu um exemplo. Ela trabalhou numa multinacional e um dos seus subalternos estava presente apenas com o corpo. O tempo todo, esse subalterno pensava em seu negócio paralelo, algo que ela descobriu depois de um ano: ele administrava um e-commerce. Comprava bugigangas de um fornecedor no centro da cidade de São Paulo e revendia para o Nordeste. Esse rapaz usava o computador e o telefone da empresa para tocar seu negócio, durante o expediente. Pedia para sair diariamente, que descobriram que eram para idas ao Correio e seu envio de pacotes para o Nordeste do Brasil.
Como alguém vai contratar um funcionário que já deseja montar o seu próprio negócio em breve? Como vencer as redes sociais, que anunciam sem parar modelos de negócio que podem ser iniciados com baixos investimentos? Como combater os milhares de cursos anunciados no Instagram, que vendem cursos de linguagem de programação e formas de renda extra?
Isso até se aplica aos seus auxiliares. Vi um caso concreto de uma recepcionista que administrava a divulgação de uma cabelereira de sua irmã, usando o celular do seu consultório, o notebook do seu consultório do seu patrão.
Ghostworking
Ouvi essa expressão na internet. São considerados funcionários que procuram emprego enquanto trabalham à distância. Estão em horário de trabalho e constantemente visitando sites e contatos em outras empresas (concorrentes ou outros setores). No caso, usando o notebook da empresa atual. A pesquisa dizia que 92% dos profissionais admitiam fazer isso.
Na Odontologia, dadas as mãos sempre ocupadas, o dentista não pode fazer isso. Mas acredito que muitos estejam usando o local de trabalho para fotografar casos, gravar stories do Instagram e divulgações pessoais semelhantes. No entanto, entendo que isso seja a analogia do ghostworking na Odontologia. O dentista não está procurando novo emprego, mas está montado material para montar seu próprio consultório ou seu negócio digital. O ghostworking deve ser considerado uma falta funcional? Merece uma punição ou é mero fruto da tecnologia?
A questão do aluguel, PJ ou CLT?
Ouvi um podcast em que alguém perguntou para um empreendedor famoso se ele abriria uma loja física. Acho que foi o tal Primo Rico, Thiago Nigro. A resposta dele foi esclarecedora: Não, não abriria porque não pagaria aluguel por uma loja que funciona meio período. O apresentador pediu para explicar. Um negócio digital funciona e vende vinte e quatro horas por dia, uma loja física só trabalha no horário comercial. À noite, ela fica fechada, não vende. Eu não pagaria por um espaço que funciona meio período.
Ele raciocinou de uma forma curiosa, mas muito verdadeira. Pensei nessa afirmação dele por alguns dias. A visão dele era bastante avançada. Se uma loja digital funciona à noite, nos feriados e o ano todo, por que pagar por um espaço que fecha à noite e que não funciona aos domingos? Ele tinha razão na analogia. Então, juntar a dificuldade de conseguir mão de obra com essa questão do aluguel, realmente, expandir seu negócio parece difícil, com altos custos. Por isso, não acredito numa explosão de Odontologia empresarial, leia como clínicas franqueadas. O empresário paga aluguel e usa apenas meio período, segundo o entrevistado do podcast. Ele traz dentistas para trabalharem, mas acaba os treinando a sair de lá para empreender.
Qual a solução?
Vi a solução em outro exemplo: o consultório familiar. Nestes casos, os dentistas precisam de vínculos muito fortes para trabalharem juntos. Não basta terem feito faculdade juntos, devem ter alguma dificuldade razoável para se separarem do negócio. Então, marido e mulher, que geralmente se dividem em mulher trabalha na área mais estética: Dentística, Prótese e Ortodontia. Já o homem trabalha na área mais sangrenta: implantes e cirurgias, talvez alguma Periodontia mais cruenta. Essa parece ser uma fórmula que dá certo.
Muitas vezes, é melhor encaminhar um paciente para um colega externo a ter esse colega trabalhando diariamente com você, presencialmente. O exemplo foi dado acima: a odontopediatra que acabou saindo para montar o seu próprio consultório.
Entrevistas de emprego
Como contratar alguém que responde sua visão daqui a cinco anos: quero ter meu próprio negócio, na minha própria loja digital. Se contratá-la, ela vai montar um negócio usando o tempo e o hardware da sua empresa. Por isso, vejo a questão da mão de obra na Odontologia cada vez mais complexa. Em quem acreditar numa entrevista de emprego? Numa dentista que diz que pretende fazer carreira no seu consultório? Claro que ela não pretende isso…ela vai produzir conteúdo durante o expediente, vai divulgar o nome, vai aprender lá dentro para depois pedir demissão e montar o negócio dela. Portanto, o cenário é esse.
São Paulo, 4 de julho de 2025
andreamaralribeiro@hotmail.com
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